segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Estrela Cadente

Com pressa ela abria os olhos, mas não sabia aonde estava, tinha medo por isso chorava, e chorava. Mãos acolhedoras de alguém familiar lhe pegavam com carinho e a agarravam como se nunca mais fossem soltar. Era a primeira vez que Júlia avistava o mundo, foi saindo daquele imenso mar avermelhado e caindo direto numa desconhecida salinha branca, com um monte de gente querendo um pouquinho daquele pequeno pedaço de beleza.
Sempre observadora, ela prestava atenção em cada detalhe, desde a cor das pipas que passeavam pelo céu, até no bigodinho de leite que ficava no seu rosto de manhã.
Era como se tivesse miopia porque gostava de ver as coisas bem de perto, sem deixar nada escapar. Odiava assistir tv, não conseguia sentir as pessoas, sentia a distância, era como se nada conhecesse, por isso ela sentava na tevê e assistia a vida.
Sempre tentava desvendar aquele bendito truque sem solução que o mágico fazia e ver como de uma hora pra outra aquele leite branquinho se tornava vermelho quando sua mãe jogava o morango na sua sobremesa favorita.
Ela gostava de ver o mar, pois se arrepiava ao sentir a harmonia das ondas, que iam e viam lentamente com seu cheiro de brisa e ao som dos pássaros quando o sol estava indo embora.
Júlia nunca teve a oportunidade de ver uma estrela cadente, mas toda vez que espirrava dizia que uma estrela tinha passado pela sua frente, por isso sempre fazia um pedido: que seus olhos sempre brilhassem.
E de fato brilhavam, pareciam espelhos d'água de puro diamante ou esmeralda. Não importava o instante mas eles reluziam à luz do dia, contantes, contagiantes.
Novamente, com pressa ela abriu os olhos e sabia aonde estava, não tinha medo por isso brilhava. Ondas acolhedoras lhe pegavam com carinho e a agarravam como se nunca mais fossem soltar. Era a última vez que Júlia avistava o mundo, foi saindo daquele imenso lugar de descobertas e caindo direto numa nova salinha desconhecida.
Sempre observadora, ela prestava atenção em cada detalhe. Ela gostava de ver o mar, de sentir a harmonia das ondas, que iam e viam bruscamente. Ela já não sentia mais o cheiro de brisa, já não ouvia mais o som dos pássaros e nem avistava o pôr do sol. Não importava o instante mais seus olhos reluziam à luz da noite, eram belos cintilantes, que afundavam lentamente, como seu corpo caído nas profundezas do oceano. Seus olhos, espelhos d'água já não viam nada, mas continuavam abertos à nos iluminar: à brilhar. Como quando espirramos e vemos uma estrela cadente ao nosso luar.